PODE FICAR VERMELHA



Quem nunca se deparou com aquela pergunta constrangedora: “Já ficou ‘mocinha’?” Ou então, com as bochechas queimando de vergonha, sussurrou na farmácia: “Tem absorvente?”. Mulheres menstruam desde que o mundo é mundo, mas o assunto ainda é um tabu!

O que muitas de nós talvez não saibamos é que desde os primórdios da humanidade, atribuía-se ao sangue menstrual um poder sobrenatural, sagrado, misterioso e mágico.
A observação do ciclo menstrual e sua relação com as fases da lua refletiam o vinculo entre a Mãe Terra e a Mulher, que guardava o mistério da vida em seu corpo ( afinal, são as mulheres que geravam e pariam as crianças).
 
Com o advento das religiões, filosofias e valores patriarcais, iniciou-se uma longa e persistente difamação e perseguição dos poderes sagrados do sangue menstrual ( bem, não só ao sangue menstrual, mas a muitas coisas ligadas a mulher...) ao qual foram atribuídos efeitos maléficos e associações com sujeira, perigo e maldição.
 
Na atual sociedade tecnológica e racional, as coisas não melhoraram para a coitada da menstruação. Ela é vista como uma desvantagem biológica, que torna as mulheres instáveis emocionalmente e pouco produtivas.
 
Durante a fase menstrual a mulher tem a percepção expandida, fato que permite insights e amplas conexões com o mundo espiritual. A cura e o fortalecimento da essência feminina incluem reverter a maldição do ciclo menstrual em celebração (ou seja, deixar de ser uma fase ‘torturadora’ para ser uma fase onde sintamos mais harmônicas e em paz conosco e com o mundo). Durante o ciclo menstrual somos conectadas a energia de vida /fertilidade (fase de ovulação) e morte/finalização (menstruação).
 
 
A maior parte dos problemas comuns das mulheres, como cólicas, dores, enxaquecas, enjôos, etc, durante o período menstrual, tem origem no conflito entre suas necessidades internas e as obrigações externas. A sociedade é baseada em ciclos masculinos e solares, que são diferentes dos femininos e lunares. Isoladas dos seus ciclos naturais e de outras mulheres, o resultado é: Tensão Pré Menstrual, ansiedade, irritação e dor.
 
Durante milênios, nas antigas culturas, honrava-se esta necessidade fisiológica da mulher de se recolher, perceber e interagir com os eu mundo interior. Haviam “tendas lunares”, onde as mulheres iam passar seus dias de ciclo e lá confraternizavam com outras mulheres. 
 

 
É importante observar seus sentimentos, emoções e estado físico e mental durante a menstruação. Em qual fase da lua (nova, cheia, crescente ou minguante) você menstrua? Como você fica fisicamente, mental e emocionalmente? Você fica irritada ou calma? Agressiva ou deprimida? Confiante ou pessimista? Vale a pena anotar na sua agenda ou diário e observar a freqüência de suas respostas.
 
E para encerrar este texto, um pequeno conto extraído do livro “O Anuário da Grane Mãe”, de Mirella Faur, para podermos ficar vermelhas sem nenhuma vergonha disso: “A deusa chinesa lunar Chang-O era a guardiã do sangue menstrual, considerado o elixir da imortalidade por ter o poder misterioso e sagrado da vida, da morte e do renascimento. Seu marido, invejando esse monopólio mágico, tentou roubá-lo. Revoltada, Chang- O se refugiou na Lua e proibiu a presença dos homens nos Seus festivais. Ela tornou-se a protetora das mulheres, que passaram a celebrar a Lua cheia somente entre elas, com canções, danças e exaltação do poder sagrado feminino, representado pelo sangue menstrual, a Lua e a Deusa.”
 
Texto baseado no livro “Círculos Sagrados para mulheres contemporâneas”, de Mirella Faur, Segunda Parte, Capítulo II, “Consciência Lunar”, Os Mistérios do Sangue.
 
Semíramis Dominghetti

Um comentário:

  1. Mesmo anos depois, ainda lembro de como fiquei com vergonha rs, eu querendo esconder de tudo e todos e minha mãe ligando para pai, vó e tia avisando que eu tinha " virado mocinha" .. que constrangedor kkkkkkk Realmente ainda é um tabu, mesmo sem razão rs! Parabéns pela matéria, adorei!

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Com amor de Jó,