Se eu fechar os olhos posso lembrar das horas fazendo colares havaianos para nossa festa de arrecadação de recursos para instalação do Bethel. Posso sentir meus dedos queimando de tanto usar a tesoura para cortar bolinhas de plástico que se transformariam em flores. Posso ouvir as gargalhadas daquelas 20 e tantas meninas ansiosas por conhecer algo que mal sabiam que mudaria suas vidas para sempre.
Muitas delas existem na minha vida até hoje, algumas mais presentes, outras menos, mas todas dentro do meu coração. E lá se foram 20 anos, de muito amor e aprendizado. Há exatamente 20 anos, em 30 de março de 1996, era criado o Bethel 03 – Natal/RN da Ordem das Filhas de Jó Internacional. Fundado pelo Bethel 01 – Caicó/RN, o Bethel foi o terceiro do Estado do Rio Grande do Norte. O primeiro conselho guardião foi liderado pelo lindo casal Dayse Lima de Freitas e Manoel Nicolau de Freitas, e eu fui eleita a primeira Honorável Rainha, ficando no cargo por 1 ano e 7 meses, uma longa gestão.
Tudo era novo, a Ordem, os preceitos nos quais se baseia essa irmandade, as irmãs e tudo mais. Mas para mim desafio dado é desafio cumprido, e assim segui adiante aprendendo e ensinado o que essa grande família tinha para oferecer. Nossos ensinamentos, baseados na história de Jó da bíblia, mostram a perseverança de um homem que perdeu tudo e se manteve fiel a sua fé em Deus e teve toda a merecida recompensa. É nesse exercício diário que faço a Ordem estar presente dentro de mim todos os dias. Nem sempre consigo, mas nunca desisto.
Ao longo desse tempo foram muitas viagens, muitos congressos, encontros, festas, instalações. Em 2012 recebi o Grau de Púrpura Real e assumi, junto ao Supremo Conselho, a responsabilidade no auxílio aos Bethéis do Amazonas e Amapá. Não dá pra explicar a satisfação que é fazer parte dessa Ordem, mas quando vejo que nesses 20 anos vi meninas tímidas virarem grandes e destemidas mulheres. Posso dizer que as Filhas de Jó Internacional contribuíram muito para o futuro do meu país.
Hoje vejo a luta de irmãs contra o racismo, a homofobia, a discriminação contra mulheres, as lutas trabalhistas, o humanismo, vejo irmãs espalhando o bem por aí. Isso é o que me motiva a seguir nessa Ordem, sabendo que o que ela me proporcionou é, também, meu dever de proporcionar a outras meninas. Quanto orgulho tenho de vocês.
Hoje somos milhares de mulheres no mundo que partilham de ideais tão maravilhosos. Sim, os ideais são maravilhosos, nós, as pessoas que às vezes distorcemos alguns deles e por vaidade nos deixamos cair em algumas armadilhas. Mas os ensinamentos, quando são realmente vividos no dia a dia, nos fazem ver que aquilo que aprendemos dentro da Ordem pode ser usado em cada pequena atitude e mudar nossas vidas grandemente.
Camilla Sá Freire
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Com amor de Jó,